Fashion era minha avó
Nada como a iminência de uma catástrofe ambiental em escala planetária para corrigir os maus hábitos de uma comunidade. Sou do tempo em que leite, refrigerante e cerveja eram vendidos em boas garrafas de vidro, reutilizáveis. Para ir à feira ou ao supermercado, as donas de casa utilizavam sacolas de lona. O cafezinho era servido em xícaras de louça. A água era bebida em copos de vidro. Pratos e talheres eram feitos de louça e aço inox. Capa de chuva era confeccionada em gabardine.
Tudo isso ficou fora de moda da noite para o dia com o advento das garrafas pet, das sacolas, dos copos, talheres e até das capas de chuva de plástico – tudo descartável. “Moderno” passou a ser usar uma vez só o que quer que fosse, e jogar fora em seguida. Até bens mais duráveis, como computadores, eletrodomésticos e celulares tornaram-se descartáveis nos últimos anos.
Em vez de consertar a TV ou a geladeira, comprava-se uma nova (e a velha ia para a calçada...). O celular tinha de ser trocado a cada seis meses por um modelo novo. A obsolescência programada se incorporou aos objetos do nosso cotidiano de forma tão “natural”, que quase nem percebemos. Até os carros atuais, feitos de plástico barato, parecem ter prazo de validade curto.
Felizmente, estamos percebendo que esse modo de vida absurdo, importado acriticamente dos EUA e do Japão, cobra um alto preço da natureza. Exaurindo os recursos naturais do planeta e transformando o mundo em que vivemos em um grande lixão. Por isso, as coisas já estão começando a mudar.
O que até há pouco era considerado “antigo”, agora é moderníssimo. A Coca-Cola, por exemplo, já oferece em supermercados e bares do interior de São Paulo garrafas pet reutilizáveis após reciclagem, com um bom desconto no preço do refrigerante. O grupo Pão de Açúcar estimula o uso de sacolas de pano. Empresas substituem copos descartáveis por canecas de louça ou vidro e reduzem o consumo interno de papel. Crescem, nos EUA e na Europa, movimentos como os da Simplicidade Voluntária, da Casa Pequena, do Consumo Consciente, o Slow Food, o Slow Travel, que propõem um novo estilo de vida, baseado na frugalidade, na reciclagem e na sustentabilidade. Moderninha, fashion mesmo, era minha avó.
Os praticantes desta nova filosofia de vida não são new hippies. Tampouco pretendem acabar com o capitalismo. Não se trata de um retorno nostálgico a Woodstock. De uma nova utopia regressiva. Nada disso. São pessoas comuns, como eu e você, que, um dia, perceberam que o consumo desenfreado não entrega a felicidade prometida pela publicidade. Gente que, com seu trabalho de formiguinha, tenta evitar não apenas o aquecimento global, mas a completa exaustão do planeta.
Felizmente, as novas gerações já estão mais atentas à urgência de economizar recursos naturais. O consumismo que marcou a minha geração deve ceder lugar a atitudes mais sensatas diante da avalanche de quinquilharias one way despejadas nos shoppings. Não importa se o aquecimento global resulta da ação do homem ou da própria natureza. Não importa se a COP15, de Copenhague, foi uma tremenda decepção. Cada um tem de fazer a sua parte para reduzir o impacto de sua passagem por este mundo.
Não me surpreenderia se, dentro de alguns anos, comprar e descartar objetos compulsivamente, como ainda fazemos, venha a ser algo tão malvisto socialmente como é hoje o consumo de cigarro ou de drogas. O potencial destrutivo dos atuais hábitos de consumo é ainda mais nocivo para a comunidade. Como o uso de qualquer droga, consumir irresponsavelmente produz uma euforia imediata, sucedida por uma sensação de vazio e depressão tão logo seu efeito se dissipa. O problema é que, quando se trata do meio ambiente, as consequências de nossos atos atingem a todos. Sem exceção.
Li e resolvi compartilhar esse texto do Irineu Guarnier porque é extremamente simples, mas deixa aquela pulginha atrás da orelha porque ressalta as questões atuais e confronta com o pensamento compulsivo e emergente que vivemos dentro da sociedade capitalista. Busca-se não só fazer a coisa certa sempre, mas as vezes deixamos de lado atitudes simples que complementariam um pedaço do ser, para não perder tempo, o que poderia deixar menos egoísta o ser humano. Depois que li o texto do Irineu lembrei do Bauman no livro Vida Para Consumo que analisa a sociedade moderna transformada em sociedade consumista. Bauman menciona a sutil e penetrante mudança que os consumidores sofreram, transformando-se em mercadorias, e afirma que essa é a verdade oculta, "as pessoas precisam se submeter a um constante remodelamento para que, ao contrário das roupas que saíram de moda , não fiquem obsoletas"
Descobri uns dados que chocam:
Os jovens japoneses chegam a gastar 90% do que ganham em moda, em roupas e acessórios, talvez para compensar a tradição restritiva do passado e o stress da vida moderna.
Estão ocidentalizados e são viciados no consumo. Alguns, por exemplo, moram em apartamentos de 20 metros quadrados, onde tem suas roupas penduradas pelas paredes, exibindo as mais caras grifes do planeta.
É um estilo de vida concentrado nas compras, no consumo desesperado, como forma de satisfação e de fuga, numa sociedade que trabalha concentrada no esforço, mais do que no resultado. Algumas empresas têm que obrigar os funcionários a irem embora às 22 horas, senão eles atravessam a madrugada.
até a modernidade é líquida!
ResponderExcluirLegal o texto, Carol!
beijos!
modernidade com aspas!
ResponderExcluirse esse cidadão não leu o bauman, ele devia ler.
ResponderExcluirse leu, esqueceu de citar o homem.
adorei Carol, parabéns!
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